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"Ecopsicologia: restaurando nossos vínculos com a Teia da Vida"


Na tarde do dia 21 de outubro de 2022 aconteceu a live "Ecopsicologia: restaurando nossos vínculos com a Teia da Vida" com Marco Aurelio Bilibio Carvalho e mediação da professora Selma Ciornai. O convidado inicia a live discorrendo sobre a abordagem terapêutica intitulada Ecopsicologia, através de um bate papo bastante elucidativo e profundo, que gerou grande curiosidade nas participantes a respeito do tema. Para quem não o conhece, Marco Aurélio é ​​Psicólogo Clínico, possui mestrado em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (2005) e doutorado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (2013). Presidente da International Ecopsychology Socienty. Diretor do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Clínica, atuando principalmente nos seguintes temas: psicoterapia, ecopsicologia, sustentabilidade, sociedade de consumo, saúde ambiental, adoecimento coletivo e alienação. [1]


Marco Aurélio explica que a Ecopsicologia é uma abordagem da Psicologia surgida nos anos 90 nos Estados Unidos que "nasce com um DNA de futuro muito radical" num campo inter e transdisciplinar. Apresenta de maneira sucinta a abordagem, traçando a sua trajetória, da gênese até os dias atuais, contextualizando sobre a sua epistemologia, que se mostra contemporânea às discussões - cada vez mais urgentes - sobre a crise climática que vivenciamos atrozmente. Como raízes conceituais e empíricas, a abordagem dialoga com as disciplinas da Ecologia e Psicologia, ou seja, das ciências humanas e da natureza, além de muitos outros saberes. Dessa forma, explica o convidado, a Ecopsicologia fomenta-se nos campos híbridos de saberes, integrando-se como uma síntese e apoiando-se na interdependência. Qualidades e características que, segundo Marco Aurélio, se aproxima da perspectiva de campo da Gestalt-terapia.


No decorrer da live, percebemos que uma linguagem vai se construindo com frescor, auxiliando as participantes na compreensão das temáticas que têm seus próprios termos linguísticos. Fazendo emergir a perspectiva fenomenológica da Ecopsicologia que, segundo o convidado, sustenta uma visão que considera as co-emergências das relações entre ser humano e natureza. Marco Aurélio explicita que esta é a primeira abordagem da Psicologia que pode ser chamada de ecocêntrica, transpondo a visão antropocêntrica, que individualiza o sofrimento humano, afastando-o da natureza da qual faz parte. Partindo do princípio ecocêntrico, ele diz que precisamos olhar para todas as relações, não apenas as humanas, buscando sanar a profunda desconexão com a natureza que gera inúmeros adoecimentos biopsicossociais - muitos deles já investigados em estudos, alguns citados por Marco Aurélio nessa live. O convidado conta que se criou um termo para tratar sobre esse afastamento humano com a natureza: O Transtorno de Déficit de Natureza. O TDN foi proposto pelo pesquisador Richard Louv que alerta para os grandes prejuízos fisiológicos, cognitivos e psicológicos que essa desconexão causa nas crianças na contemporaneidade, consequentemente, na sociedade como um todo, especialmente para quem habita as grandes cidades. Louv considera o Transtorno de Déficit de Natureza como uma doença da sociedade e não um diagnóstico médico - apesar do nome sugerir o contrário, é utilizado apenas como termo linguístico, que sugere uma maior precaução para os sérios danos da falta de natureza para o nosso organismo. [2]


Aprofundando esse contexto preocupante, Marco Aurélio discorre sobre esses tempos em que produzimos sérias degradações, não apenas para as florestas, mas também para os humanos. Sugere que as síndromes atuais revelam um script auto destrutivo que é reflexo de um ecocídio em curso. Evoca com pesar o resultado inconsequente da destruição humana, que começa nas florestas e acaba em nossa subjetividade, causando uma profunda desertificação da mente. Complementa que a destruição das árvores gera uma degeneração psíquica estrondosa e a relaciona com a epidemia psíquica desses tempos: a depressão. "Não por acaso, vivemos o tempo da depressão junto com a crise climática e a destruição de inúmeros ecossistemas. É a nossa agressividade que se volta para dentro de nós", pontua o convidado. Ele comenta que, pela Ecopsicologia, é possível repensar essa ruptura do humano com a natureza, restaurando a interdependência dos nossos corpos com o grande corpo da floresta.


O convidado comenta que a mudança em busca da reconexão pode começar pela postura do terapeuta durante a escolha do setting, que passou a ser virtual na pandemia, mas que pode ser repensado para novos e/ou outros modelos: híbridos, presenciais e, até, os settings vivos. "É preciso criar vínculos existenciais com as florestas", sugere e agrega dizendo que, ao estar imerso na natureza, nos colocamos em estado de presença que o mundo tecnológico tanto nos tira. Pontua que, para ter esse contato de qualidade com o mundo natural, não é preciso morar dentro da mata nem destinar muitas horas por dia para se beneficiar. Os resultados positivos no estado de saúde geral podem ser vistos nos habitantes de locais arborizados ou que se dedicam algumas horas semanais imersos na natureza. Conta que no Japão existe uma medicina criada pós revolução tecnológica: o banho de floresta, que acontece pelo contato com a natureza com qualidade de presença. "O melhor da nossa saúde se encontra na relação com as árvores, que ativa a nossa biodiversidade fisio e psicológica", conclui Marco Aurélio. Para finalizar de modo vivencial, Selma Ciornai e Marco Aurélio convidam as participantes a assistirem o vídeo "Respiração da Terra"[3], enquanto sugerem que todas respirem juntas. Por fim, celebrando a despedida, as participantes ouviram a música "Cio da Terra"[4] dos cantores Chico Buarque e Milton Nascimento.

[1] Disponível em: https://www.escavador.com/sobre/632617/marco-aurelio-bilibio-carvalho. Acesso em 08 de novembro de 2022. [2] Disponível em: https://www.dgrh.unicamp.br/noticias/deficit-de-natureza. Acesso em 08 de novembro de 2022. [3] Disponível em: https://youtu.be/wjXWWXGQsQ4. Acesso em 08 de novembro de 2022. [4] Disponível em: https://youtu.be/sB2uIJBzzsU. Acesso em 08 de novembro de 2022.

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